terça-feira, 21 de dezembro de 2010

CONTOS ERÓTICOS DA MIRITA



Imagem: The pin-up de Roberto Remiz



VÔO






Quando ele embarca em mim, sou toda sua. E toda nua sou tratada no começo pelo ateniense Dédalo com as asas invisíveis surgindo dos flancos com seu desejo milenar de voar seu exílio em mim. Aos poucos ele me faz decolar para siderar enlouquecido com toda tração, toda propulsão e eu com toda arfagem no meio da sua manobra, me mantendo na força do arrasto, enfrentando as ondas de choque. E depois me faz de pombo de Archytas, da carruagem aérea que me vira sua Susroni para ele que se torna o meu rei Supama, de Xiva ou de Yama, até me fazer pipa chinesa, ou a espacial cidade de Kuvera. Ele me transforma no ornithopter de Leonardo da Vinci, na máquina de Swedenborg, no dirigível de Giffard, no planador de Cayley, no monoplano de Pearse, no biplano de Maxim, no aerodrome de Langley, no 14-Bis de Santos Dumont, no flyer dos irmãos Wrigths, no hidroavião de Fabre, no girocóptero de La Cierra, no ecranoplano russo, no helicóptero de Cornu, no concorde de Yeager, no Sputinik, no Apolo 11, na Hubble até que eu seja toda Via Láctea para todas as suas odisséias sexuais. E ele recomeça como se eu fosse o seu ultraleve. Ele é meu piloto, meu guia, me faz voar, me deixa nas nuvens no nosso vôo sem hélices, ao sabor dos ventos, pelas correntes e me mantém com estabilidade. Obedeço ao leme sem bússola, sem altímetro, sem velocímetro e despressurizo. Ele Gagarin e eu sua Vostok. Ele Shepard, eu Redstone. E eu sou toda e ele a bordo no meu cockpit, manipulando todo meu instrumental. Dá sua guinada e aciona minhas turbinas e viro a jato no seu tráfego exclusivo por todas altitudes, todas as longitudes com seu desejo supersônico. Ele me faz sua aeronave, qual astronauta sem órbita. E sou sua espaçonave enlouquecida, sua astronave para realizar todos os seus desejos. E mais sou mais quando me beija a boca, liga minha tomada da ignição para levar às alturas imensuráveis do prazer, demoradamente degustada até que eu aterrisse entregue e farta toda dele.





sábado, 11 de dezembro de 2010

CONTOS ERÓTICOS DA MIRITA


FALO



Mirita Nandi



O seu sabor é meu domicílio e eu agasalho o brilho da sua terracota Burra da Nigéria com seu halo mágico que me faz felatriz gulosa de Saudek como se fosse o obelisco da minha adoração.



Imagem: "Falo" Burra - Nigéria terracota século VII, século XIII - Museu Afro Brasil

E massageio frenética com dengo dócil o sabre que é minha perdição de sereia nas lambidas de cima pra baixo pelo gêiser Agbar de Gaudi que se deslizam entre os meus dedos iluminados.




Imagem: Torre de Agbar de Antoni Gaudi.


E tremo toda delirante com o charuto de Havana vivo que resiste aos toques refinados dos cheiros e mimos de todas as estrelas e constelações da minha boca cheia que vira a vala da salsicha e serpenteia para fazer o meu parque de Haesindang da Coréia do Sul.

E me arrebento feliz com o florete que é a minha honraria e rendição e eu estanque devoradora viro Grima no cacto esguio da lavoura dele aguçando a minha língua medonha de víbora do Gabão nas tremulares modulações que babam minha peçonha prateando o totem monolítico de minha crença atéia no menir da Cabeça do Rochedo.

E gosto lânguida manhosa lavando a culpa da minha loucura de lambuzar com a saliva da minha gula acendendo a espada Anglachel do elfo negro que eu agarro apertada entre as minhas mãos como o troféu ambicionado para minha salvação a chupar papa-tudo para hozana nas alturas e de ser torturada lambendo, imolada gemendo para dizer alô com sofreguidão pro seu veneno que me enfeitiça, sua peçonha que me contamina e engulo o seu apogeu de pico de Itabira.

E me enrosco como quem se apossa da La Fala de Moscovo aos gargarejos que canta de galo e eu cacarejo e ralo como égua no cio do cavalo príapo e cavalgo nua sozinha gemendo qual cantora lírica da ópera de Leoncavallo para pegá-lo todo gládio que se faz foguete na plataforma de lançamento e que rasga meu céu com sua pontiaguda e cilíndrica protuberância da coluna mediterrânea de Malta do Paul Vella Critien.





Imagem: Vista do Marco Zero do Parque das Esculturas do Artista Francisco Brennand, com a Torre de Cristal, em Recife, Pernambuco, Brasil.



E quase engasgo no abalo que ameaça explodir e caio de joelhos e rezo a minha predileta oração empunhando o menir do outeiro que resvala nos meus lábios escarlates carnudos sêmenados que acasala e dá aconchego à Torre de Cristal de Brennand e sacia a minha aventura faminta da glande ao meu suplício aliviado e arrebentada e contrita desse talo faço a cruz adorada, meu altar de fiel vestal e me viro papisa e me regalo com orações, mantras e abluções na necessidade do corpo e da alma no monumento aos Heróis do Povo da Praça da Paz Celestial.

E abocanho até o talo acarinhado na adaga que é uma banana de dinamite que se faz míssil Proton-M que sai inteiro e eu mino pelo ralo que quer a torre do Gasômetro no meu Porto Alegre bocejo e azeda meus gostos mais gostosos como uma faca que vira a ogiva feita a katana japonesa, como mater admirabilis de Martinez que é cogumelo de carne deliciosa no meu apetite e se dana flauta doce que Pã me esfregou na cara como o cano da arma que detona o meu pecado palatável como pirulito saboroso que é rio caudaloso, o meu picolé gostoso que explode o cajado da felicidade para ser todo meu e totalmente meu deus.




Imagem: Druuna, de Paolo Serpieiri.

Veja no blog erótico Crônica de amor por ela.